quarta-feira, novembro 17, 2010

Postal VI

insinceridade

quis-nos aos dois enlaçados
meu amor ao lusco-fusco
mas sem saber o que busco:
há poentes desolados
e o vento às vezes é brusco


nem o cheiro a maresia
a rebate nas marés
na costa de lés a lés
mais tempo nos duraria
do que a espuma a nossos pés


a vida no sol poente
fica assim num triste enleio
entre melindre e receio
de que a sombra se acrescente
e nós perdidos no meio


sem perdão e sem disfarce,
sem deixar um pègada
por sobre a areia molhada,
a ver o dia apagar-se
e a noite feita de nada

por isso não quero 
ir contigo ao lusco-fusco,
meu amor, nem é sincero
fingir eu que assim te espero,
sem saber bem o que busco.

in Letras do Fado Vulgar, VGM