segunda-feira, dezembro 28, 2009

Tentemos

a m.c.

A volte dico: tentiamo d'esser gioiosi,
e mi appare discrezione la mia,
tanto scavata à ormai la deserta misura
cui fu promesso il grano.

A volte dico: tentiamo d'essere gravi,
non sia mai detto che zampilli per me
sangue di vitello grasso:
ed ancora mi appare discrezione la mia.

Ma senza fallo a chi così ricolma
d'ipotesi il deserto,
d'immagini l'oscura notte, anima mia,
a costui sarà detto: avesti la tua mercede.

para m.c.

Por vezes digo: tentemos ser alegres,
e parece-me prudência a minha,
tão escavada é agora a deserta medida
à qual foi prometido o grão.

Por vezes digo: tentemos ser graves,
não se diga nunca que jorra para mim
sangue de vitelo gordo:
e ainda me parece prudência a minha.

Mas mesmo sem culpa a quem assim enche
de hipóteses o deserto,
de imagens a noite escura, alma minha,
a este será dito: tiveste o que era teu.

Cristina Campo in O Passo Do Adeus
(tradução de José Tolentino Mendonça)