Os Reis da Morfogénese (I)
o ser humano no final do período embrionário (© Dr Mark Hill (2006))
O período embrionário do desenvolvimento de um indivíduo da nossa espécie compreende as primeiras oito semanas de gravidez, ao qual se segue o período de desenvolvimento fetal que termina à trigésima sexta semana com o nascimento. Dias, semanas, meses daquilo a que damos o nome de morfogénese. Desde o primeiro instante migrações alucinantes de células, gradientes químicos que traçam o caminho, reprogramação constante de toda a informação, a herança do processo evolutivo a marcar o ritmo, o passo anterior a determinar o seguinte - são os movimentos morfogenéticos. Um dos factos mais pertinentes que resultou de décadas de investigação na área do desenvolvimento, efectuada em géneros tão diversos do mundo vivo que vão desde a planta Arabidopsis thaliana e do famoso invertebrado Drosophila melanogaster até ao ratinho Mus musculus e terminando na nossa espécie, aponta para uma verdade perturbadora, não existe momento secundário no processo morfogenético do desenvolvimento de um organismo. Apenas etapas morfológicamente identificáveis num contínuo dinâmico que fazem nessa altura o indivíduo em desenvolvimento. A interrupção deste processo em qualquer das suas fases implica o fim desse projecto e ao nível do indivíduo a sua morte. Sim, no caso da nossa espécie a cessação de um ser humano. Penso ser esta a contribuição imparcial do conhecimento científico para a questão da interrupção de uma gravidez. Existem no entanto grupos de cidadãos (onde se incluem cientistas) que alheios a uma parte do conhecimento científico, estabelecem importâncias distintas para as diferentes etapas identificáveis durante a morfogénese do indivíduo humano, propõem um período sem morte, são os Reis da Morfogénese.
(continua)