sexta-feira, outubro 29, 2010

Fair play


(nunca tinha colocado qualquer face aqui)

Um ano. Passou um ano depois das ultimas eleições legislativas. É mesmo novidade o que se está a passar em Portugal? Não. Um governo que insistiu (há cinco anos e agora) no programa eleitoral irrealista que apresentou aos portugueses só podia acabar assim. E basta ano e meio de memória para reparar que houve espaço (e tempo) para se tomar outro caminho que não impediria mas teria atenuado o que se vê hoje. Sim, agora vê-se. Enquanto Sócrates falava de um lugar tecnológico e colocava o país num painel digital cheio de luzinhas e cursores, Ferreira Leite retratava o país analógico que  se percebia com apenas três ponteiros. O país dispensava anúncios ferroviários porque já caminhava a alta velocidade para um túnel extenso. Até houve paródia sobre as palavras da mulher. Muita comunicação social, fina como um rato, ia dando destaque aos compromissos do engenheiro, mas já sabia que o que vinha era muita manchete de miséria. 
Há muita falta de fair play aqui, na mensagem que sai dos partidos e depois na que entra. O PS sabe e sabia que não tinha um programa eleitoral honesto que usou para ganhar as eleições. Sabia que o país tinha já esticado a fita. Não a que marca a meta, a que amarra os portugueses. Um país exigente tem e deve perguntar ao PS como foi que lhe arranjaram isto para governar Portugal.  Mas este é o problema maior, o eleitorado é pouco exigente, confia demasiado nos partidos políticos. " -As contas devem estar bem feitas que os doutores percebem." Partindo daqui sim, vota-se no mais agradável e menos penoso. Aliás, um PSD exigente teria mobilizado muito mais ao ouvir Ferreira Leite.
O país não muda se a lógica eleitoral não se mutar. Se o que se vê hoje não servir para mais nada, que seja útil para o que pode ajudar Portugal,  um voto melhor.

segunda-feira, outubro 04, 2010

O padrinho agora saberá

Que fizeste das palavras?
Que contas darás tu dessas vogais
de um azul tão apaziguado?

E das consoantes, que lhes dirás,
ardendo entre o fulgor
das laranjas e o sol dos cavalos?

Que lhes dirás, quando
te perguntarem pelas minúsculas
sementes que te confiaram?

in Matéria Solar, Eugénio de Andrade