domingo, fevereiro 20, 2011

Postal VII

(...) Ele era realmente feio. Da testa curta partia a implantação do cabelo, muito preso e liso. Os olhos eram juntos e a pálpebra pregueada caía-lhes em cima como uma tampa. As mãos eram cobertas de um pêlo fino e lustroso. Apesar de tudo, não deixava de parecer um homem elegante. Como tinha pouca estatura, mantinha-se sempre muito direito, quase militarmente aprumado, e isso contribuía para que o julgassem um grande carácter. E talvez porque à primeira impressão desagradava, ao quererem dissimular o efeito que ele lhes causava, as pessoas corrigiam-no com o favor duma grande boa-vontade. Desse modo concediam-lhe depressa uma amizade que se fundava, afinal, num sentimento de culpa. E João Afonso acabou até por ter mais êxito com as mulheres, do que qualquer outro homem mais bem parecido. Dizia o seu amigo Fausto que D. João Teotónio devia ter sido bastante feio, pois as mulheres se conquistam mais rapidamente quando desde o início fica abolida a competição entre os sexos e mesmo a inveja.(...)

in As Pessoas Felizes, Agustina Bessa-Luís

quinta-feira, fevereiro 17, 2011

Contracapa


Nul auteur ne fut plus secret, plus avare de confidences et plus discret que Bergson sur sa personne, ses origines, ses goûts, pusqu'il interdit même la publication se ses lettres. M. Jean Guitton, qui fut un des disciples, et désigné dans son testament parmi les amis "chargés de défendre sa mémoire", a cherché dans cet ouvrage à faire revivre la personne de Bergson.
Il décrit ses origines, ses parents, son enfance, ses apprentissages, son premier ensignement, ses premières amitiés. Il montre ses intuitions à l'etat naissant, et le lien de sa philosophie avec son expérience, son caractère, son tempérament. Il fait un portrait de Bergson, comme il a fait jadis, à la NRF, le "Portrait de Monsieur Pouget". Il cherche enfin à voir la vocation de Bergson s'accomplissant dans la durée, comme toute vocation d'homme. Et il pose à ce sujet, en philosophe, le problème de la vocation, ce passage de notre éternité dans le temps. (...)

in La Vocation de Bergson, Jean Guitton

domingo, fevereiro 06, 2011

Humor

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

Vinte e cinco

Oito da noite, deves chegar daqui a cinco minutos. Já tirei a camisola, sentei-me e reparei que não temos regado as jardineiras. Deves estar a chegar porque hoje disseste que vinhas cedo não às dez ou às onze. Sentei-me olhei para o relógio na cozinha antes que abras a porta, antes que encontres a chave no saco gigante. O saco da feira de artesanato. Ainda não chegaste e eu aqui a lembrar-me que te conheci há cinco anos. Que éramos dois entre um sim ou não para cada lado, quatro possibilidades que nós tínhamos. Que te sorri primeiro e tu desconfiada:
- Acho que sim,
Ainda bem que contámos direito, fizemos a conta certa e que para nós um em quatro dá vinte e cinco por cento.