segunda-feira, dezembro 28, 2009

Tentemos

a m.c.

A volte dico: tentiamo d'esser gioiosi,
e mi appare discrezione la mia,
tanto scavata à ormai la deserta misura
cui fu promesso il grano.

A volte dico: tentiamo d'essere gravi,
non sia mai detto che zampilli per me
sangue di vitello grasso:
ed ancora mi appare discrezione la mia.

Ma senza fallo a chi così ricolma
d'ipotesi il deserto,
d'immagini l'oscura notte, anima mia,
a costui sarà detto: avesti la tua mercede.

para m.c.

Por vezes digo: tentemos ser alegres,
e parece-me prudência a minha,
tão escavada é agora a deserta medida
à qual foi prometido o grão.

Por vezes digo: tentemos ser graves,
não se diga nunca que jorra para mim
sangue de vitelo gordo:
e ainda me parece prudência a minha.

Mas mesmo sem culpa a quem assim enche
de hipóteses o deserto,
de imagens a noite escura, alma minha,
a este será dito: tiveste o que era teu.

Cristina Campo in O Passo Do Adeus
(tradução de José Tolentino Mendonça)

segunda-feira, dezembro 14, 2009

Virtude de prisioneiros IV

...But take courage! After all, the prisioner´s dillema turned out not to be archetypal justification of human selfishness, but the reverse. Played repeatdly and discriminatingly, the game always favours the good citizen. Nice strategies like Tit-for-tat, Pavlov and Firm-but-fair win out over nasty ones. Perhaps game theory, too, can come to the rescue of the environmentalist´s dillema. Perhaps it can find a way for self-interested exploiters of the natural world to stop themselves killing the geese that lay golden eggs....

in The Origins of Virtue, Matt Ridley

domingo, dezembro 13, 2009

Virtude de prisioneiros III

...Yet the conclusion that seems warranted is that there is no instinctive environmental ethic in our species - no innate tendency to develop and teach restrained practice. Environmental ethics are therefore to be taught in spite of human nature, not in concert with it. They do not come naturally. We all knew that anyway, did we not? Yet we persist in hoping that we´ll find an ecological noble savage somewhere inside our brest to call out with the right chants and incantations. He´s not there. As Bobbi Low and Joel Heinen put it, "Conservation philosophies relying on generalized and diffuse group beneficts are probably doomed to failure, in the absence of individual or kinship benefits to conservation management. We would be delighted to be wrong, but suspect we are not"....

in The Origins of Virtue, Matt Ridley

quinta-feira, dezembro 10, 2009

Virtude de prisioneiros II

...Little wonder that environmentalists repeatedly and reflexively call for a change in human nature (or human values, as they prefer to call it). Fondly imagining that our instictive egoisme can be waved aside by persuasive calls to be good - (...) persuasive calls to be good are themselves a powerful human instinct; obeying them is not - they demand a new set of better values to live our lives by. To make this millenial cry more believable they point to how naturally ecological virtue seemed to come to our "savage" ancestors. Like Rousseau they imagine that greed was invented just the other day, along with capitalism and technology. And they call for it to be desinvented as spiritual harmony with nature is reinvented.....

in The Origins of Virtue, Matt Ridley 

Virtude de prisioneiros

...So why do we destroy the environment ? The answer is familiar. Environmental damage is caused by a form of the prisioner´s dilemma, except that it is played by many players, not two. The problem in the prisioner´s dilemma is to get two egoists to cooperate for the greater good, and to eschew to the temptation to profit at the other´s expense. Environmentalism is the same issue - how to prevent egoists producing pollution, waste and exhausted resources at the expense of more considerate citizens. For every time somebody exerts restraint, he only plays into the hands of a less considerate fellow human being. My forbearance is your opportunity, exactly as it was in the prisioner´s dilemma, only this time the game is even harder to play because there are many players, not two....

in The Origins of Virtue, Matt Ridley

terça-feira, dezembro 08, 2009

Do PSD e do país

Uma vitória nas eleições europeias, menos 16 deputados que o PS nas eleições legislativas (com menos dois milhões de euros gastos na campanha) e vitória nas eleições autárquicas. Foi isto que aconteceu ao PSD em 2009. De que crise se fala quando o tema é o PSD ? Dos empregados do partido que quando este não está no poder ficam desocupados e da intriga jornalística que apenas ecoa sabotagem interna. Do que não se fala (não se dá nome) é da ofensiva New Age de alguns que querem com a etiqueta PSD ocupar o poder.
O pretexto dos resultados eleitorais para atribuir ao PSD uma crise não serve. Para quando uma interpretação objectiva do voto? Porque não dizer que só um Portugal ultimamente pobre e cada vez mais desigual justifica que em catorze anos o PS tenha governado onze. Porque não dizer que o PS queima a iniciativa individual e pendura muitos na dependência do Estado? Assim, percebe-se melhor o voto, percebe-se bem a inteligência do poder em manter o poder. Na economia, Portugal vai sempre crescer na sombra dos outros, a reboque do crescimento da União, não é novo. O que devia melhorar é a capacidade de amortecer os efeitos negativos quando a economia global arrefece. Mas isso falha e tenta-se pouco saber porquê. Tem sido sempre pior em Portugal. Onze anos de socialismo não conseguiram inverter esta tendência.
É certo que ao PSD não bastou alertar o país para um caminho pouco claro que está a ser percorrido. Não bastou denunciar um estilo de governação que em si não é criminosa mas que ao esconder muitos dos seus negócios da esfera pública potencia a corrupção. Mas eleger menos 16 deputados que o PS não pode significar que o esforço não é válido. Não pode significar que não há outro caminho. Substituir uma capacidade de falar verdade ao país por um PSD ligeiro, sem memória do que ainda é, só vai adiar a ressaca. A do dia em que terminar o Portugal fantasia que Sócrates imaginou.